Setor ajudou a preservar a economia, ao oferecer possibilidades seguras de comércio em meio à pandemia
As perspectivas estavam bem identificadas desde o início do isolamento social, quando as possibilidades de comprar presencialmente ficaram severamente limitadas. Mas, ainda assim, os números impressionam positivamente. Durante o período mais rígido da quarentena estabelecido em combate à disseminação da Covid-19 o Brasil registrou um aumento médio de 400% no número mensal de lojas que aderiram ao comércio eletrônico.
Segundo a ABComm (Associação Brasileira de E-commerce), até o começo das ações para conter o coronavírus no país, no início da segunda quinzena de março, a média era de dez mil aberturas por mês. Este índice saltou para 50 mil mensais logo após os decretos de isolamento social. O levantamento indicou ainda que mais de 200 mil lojas já aderiram às vendas pela internet e os setores que estão em alta são os da moda, alimentos e serviços.
Choque, recuperação e crescimento
Um bom termômetro de como esta tendência nacional se manifestou no cenário local é fornecido por Wellison Breder, gerente de marketing de uma empresa friburguense especializada em e-commerce e pioneira nacional no formato 4.0. “Poderíamos resumir a dinâmica no fluxo de vendas da seguinte forma: quando começou a quarentena, na segunda quinzena de março, quase todos os nossos clientes registraram quedas que variaram entre 50 e 90%. Naquela altura o nível de incertezas era muito alto, as pessoas estavam muito assustadas, e a imensa maioria optou por não gastar em nada que não fosse realmente básico”, observou.
“A única exceção se deu em relação ao setor da moda íntima. E entendo que isso se deu por dois motivos. Primeiro, porque a demanda por este tipo de peça é efetivamente contínua, e com as lojas fechadas a solução foi buscar alternativas no e-commerce. E também porque, como desdobramento desta demanda contínua, algumas pessoas identificaram na revenda uma oportunidade de ganhar dinheiro. Esses dois pilares mantiveram aquecidas as vendas deste setor específico”, acredita Breder.
“Este, contudo, foi apenas o momento inicial, pois já em abril muitas pessoas se deram conta de que não estavam num cenário pós-apocalíptico e aos poucos foram voltando ao ‘normal’ em relação ao consumo. Naquele mês começamos a ver as vendas de modo geral sendo retomadas, e no mês seguinte o e-commerce voltou com tudo, mais forte que nunca. Em junho as vendas já estavam superando as da Black Friday do ano anterior, e em julho os resultados foram ainda melhores.
Novos hábitos
Considerando, no entanto, que o impulso no número de adesões ao comércio eletrônico se deu por razões pontuais, que ademais todos esperam que desapareçam o quanto antes, a pergunta que mais interessa ao setor é a seguinte: quanto, de todo este crescimento, irá permanecer ao término da quarentena? Ou, colocando em outros termos, até que ponto a necessidade momentânea de buscar maneiras alternativas de consumo se reverterá em mudança de hábito para quem descobriu as possibilidades de comprar e vender via internet?
Neste sentido, agosto surgiu naturalmente como o mês mais representativo acerca do que pode vir a ser o “novo normal”, justamente em razão dos avanços que já se fizeram sentir na flexibilização da quarentena e do isolamento social. A esse respeito, Wellison informa que “até o 20º dia do mês o volume de vendas seguiu em crescimento, e tudo indicava que teríamos um resultado ainda melhor que o de julho. Nos últimos dez dias, no entanto, houve um pequeno recuo, provavelmente como reflexo do início da recuperação das vendas presenciais, e do próprio encolhimento geral da economia, que perdeu cerca de três milhões de empregos desde o início da quarentena. Ainda assim, o resultado foi bem superior ao do mesmo mês no ano passado”, comentou.
Tal interpretação parece em harmonia com dados divulgados recentemente pelo indicador Serasa Experian, segundo o qual em agosto a atividade do comércio registrou a segunda maior alta do ano e a quarta consecutiva, medida em 5,3%. No mesmo período, dados locais fornecidos por Braulio Rezende, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio), indicam que em agosto as lojas friburguenses apresentaram movimento 6% maior do que o registrado no mesmo período de 2019.
Agosto também teve algumas peculiaridades a serem registradas. No setor da moda praia, por exemplo, as vendas haviam despencado desde o início da pandemia, até que nas últimas semanas o volume de negócios subiu drasticamente, contribuindo de maneira sensível para o bom resultado do mês.
“O e-commerce certamente sairá da pandemia muito mais forte do que entrou”, avalia o comerciante. No momento em que as lojas estavam fechadas e as pessoas tiveram de ficar em casa, as possibilidades de comércio à distância foram cruciais para preservar o abastecimento e manter parte da economia funcionando. Muitos lojistas tradicionais se deram conta do tipo de potencial que pode ser agregado a seus respectivos negócios, bem como muitos consumidores descobriram a variedade de opções de consumo disponíveis na internet. Naturalmente isso não significa que o comércio tradicional esteja ultrapassado, mas parece evidente que o isolamento acelerou um processo de mudança na maneira de comprar e vender e enfatizou as vantagens de manter também uma loja virtual bem estruturada na internet”, disse.